Classificado, mas ainda em construção: Corinthians vence São Bernardo no apagar das luzes e garante vaga antecipada no mata-mata do Paulistão
Com dois gols nos acréscimos, o Corinthians venceu o São Bernardo por 2 a 0 na tarde deste domingo, na Neo Química Arena, e garantiu de forma antecipada sua classificação para a fase de mata-mata do Campeonato Paulista 2025. Os gols da vitória foram marcados por Ángel Romero e Memphis Depay, coroando uma atuação que, apesar da conquista, expôs desafios ainda presentes no time comandado por Ramón Díaz.
A classificação antecipada — primeira equipe a alcançá-la nesta edição do Paulistão — traz alegria à Fiel. Com 22 pontos conquistados em nove jogos (sete vitórias, um empate e uma derrota), o Timão mostra consistência nos resultados. Mas o desempenho diante do São Bernardo, especialmente na segunda etapa, foi aquém do esperado por quem sonha com títulos em 2025.
Domínio territorial e pouca contundência: o primeiro tempo
O Corinthians iniciou o duelo com sua tradicional postura propositiva em casa. A equipe de Ramón Díaz, armada num 4-2-3-1 mutável, usava a profundidade dos laterais e o jogo entrelinhas de Igor Coronado para buscar superioridade numérica no campo ofensivo. Matheuzinho e José Martínez foram os principais catalisadores do volume ofensivo pelo lado direito, onde o time concentrava sua posse e tentava furar a retranca montada por Ricardo Catalá.
Logo aos 9 minutos, Pedro Raul teve uma grande chance. Lançado por Martínez, o camisa 20 invadiu a área, driblou o goleiro Alex Alves, mas acabou cercado e chutou por cima. Foi a primeira das várias oportunidades criadas, mas não convertidas.
O São Bernardo, postado num 5-4-1 compacto, apostava em saídas rápidas com Léo Jabá e Fabrício Daniel. No entanto, o time do ABC teve muitas dificuldades para segurar a bola no campo ofensivo. Quando conseguiu chegar, foi aos 17 minutos, com chute de Jabá que passou longe do gol de Hugo Souza.
O Timão continuava insistindo pelo lado direito. Aos 27, Romero fez jogada em velocidade e cruzou para Martínez, que encontrou Pedro Raul em condição ideal. O centroavante cabeceou forte, no canto, e carimbou a trave — o melhor lance da primeira etapa. Três minutos depois, Guilherme Queiroz quase surpreendeu Hugo Souza, que fez bela defesa após finalização frontal.
Aos 34 minutos, Romero chegou a balançar as redes após lindo passe em profundidade. No entanto, o bandeira assinalou impedimento — corretamente. O Corinthians ainda teve outra boa oportunidade antes do intervalo, com Pedro Raul finalizando forte da entrada da área, exigindo boa defesa de Alex Alves.
Apesar da superioridade, o placar se manteve inalterado nos primeiros 45 minutos. Faltou capricho na finalização e mais fluidez na troca de passes na entrada da área. A presença de Ryan ao lado de Raniele no meio-campo gerava certo desequilíbrio na recomposição ofensiva. A equipe dependia de Coronado para criar, e o camisa 77 não viveu sua melhor tarde.
Segundo tempo travado e a aposta na qualidade individual
Na volta do intervalo, o São Bernardo realizou duas mudanças e apostou ainda mais na defesa. Emerson Santos e Rodolfo entraram com ordens claras: manter o sistema defensivo compacto e impedir infiltrações pelo centro. Com isso, o Corinthians viu o jogo ficar engessado.
O Timão rodava a bola de um lado para o outro, mas sem encontrar espaços. Ryan ainda tentou de fora da área aos 6 minutos, obrigando Alex Alves a mais uma defesa difícil. Mas era pouco. Faltava aceleração, faltava improviso — algo que Rodrigo Garro trouxe imediatamente ao entrar no lugar de Ryan aos 9 minutos.
O argentino, recém-recuperado de lesão, mudou o ritmo da partida. Em seu primeiro toque na bola, limpou a marcação e achou belo passe para Romero, que chutou de primeira — para fora. Foi o início da leve melhora corintiana no segundo tempo.
Aos 18, Memphis Depay foi acionado no lugar de Pedro Raul. A entrada do holandês deu nova dinâmica ao ataque: mais mobilidade, troca de posições e passes verticais. Mesmo assim, o São Bernardo seguia resistindo.
Aos 30 minutos, Ramón Díaz decidiu mexer mais uma vez. Maycon, André Carrillo e Hugo entraram em campo nos lugares de Martínez, Coronado e Matheus Bidu. Com isso, o Corinthians adotou uma postura ainda mais ofensiva, liberando Matheuzinho e Hugo para atuarem como pontas, deixando Raniele como único volante fixo.
O time passou a atuar praticamente em um 2-3-5 no campo de ataque. Garro, mais solto, flutuava entre as linhas, Memphis alternava entre falso 9 e segundo atacante, e Romero ganhava liberdade para entrar na área. Mesmo assim, o último passe continuava esbarrando na defesa sólida do adversário — e, claro, no bom posicionamento de Alex Alves.
O São Bernardo tentou aproveitar os espaços deixados, e Lucas Rian teve boa chance, mas chutou por cima. No minuto seguinte, uma falha na saída de bola quase custou caro, mas Romero foi travado no momento da finalização.
Aos 47, Maycon apareceu com protagonismo. Recuperado de lesão ligamentar, o camisa 7 dominou no meio, levantou a cabeça e lançou Memphis na área. O camisa 94 dominou, girou sobre a marcação e finalizou. A bola desviou e sobrou para Romero, que, de cabeça, abriu o placar. Explosão de alívio na Arena. Alívio que virou festa dois minutos depois.
Com o São Bernardo se lançando ao ataque no desespero, o Corinthians matou o jogo em contra-ataque rápido: Romero e Memphis trocaram passes e o holandês, cara a cara com o goleiro, não desperdiçou. 2 a 0, classificação garantida e liderança do grupo assegurada.
Análise tática: um time que ainda procura o equilíbrio
A vitória dá ao Corinthians a tranquilidade da classificação antecipada, mas não pode mascarar os problemas de produção ofensiva. O time criou muito no primeiro tempo, mas voltou a pecar na finalização e dependência de alguns nomes. Sem Yuri Alberto e Talles Magno, a equipe perdeu agressividade no terço final.
A entrada de Garro foi fundamental. Com ele, o time ganhou pausa, qualidade no passe e leitura de espaços. Memphis também mostrou que pode ser decisivo vindo do banco — ou até como titular. Pedro Raul, apesar de boa movimentação, segue irregular na conclusão das jogadas.
Defensivamente, o time foi sólido, embora pouco testado. João Pedro Tchoca novamente se portou bem ao lado de Félix Torres, e Hugo Souza se mostrou seguro quando exigido. Raniele foi um gigante na proteção e iniciação de jogadas.
O ponto mais preocupante, talvez, seja a queda de intensidade no segundo tempo. A dificuldade para quebrar retrancas tem sido recorrente, e, nos mata-matas, isso pode ser fatal.
O que vem por aí?
Com a vaga assegurada, o Corinthians volta a campo na quarta-feira, às 21h35, em clássico contra o Santos na Neo Química Arena. Será um novo teste de fogo para Ramón Díaz, que terá tempo reduzido para ajustes, mas pode começar a moldar o time ideal para a reta decisiva.
Rodrigo Garro e Maycon pedem passagem. Memphis, com gol e assistência, também. Romero segue sendo o motor do ataque.
Vitória que classifica, vitória que emociona. Mas também vitória que exige reflexão. O Corinthians está nas quartas. Mas ainda não está pronto.