Conselho Deliberativo do Corinthians reprova as contas de 2024

Reprovação das contas de 2024 abala bastidores do Corinthians e intensifica crise interna
Votação no Conselho Deliberativo reflete profunda insatisfação com a gestão de Augusto Melo
Augusto Mello - Foto Divulgação
Augusto Mello – Foto Divulgação

Na noite desta segunda-feira, o Conselho Deliberativo do Corinthians rejeitou oficialmente as contas do exercício de 2024, acentuando uma fase de grande instabilidade dentro do clube.
A sessão, realizada no tradicional Parque São Jorge, trouxe à tona não apenas os números financeiros que comprometem a saúde orçamentária do Timão, mas também as tensões políticas que marcam a primeira gestão do presidente Augusto Melo.

O resultado da votação foi um duro golpe para a atual diretoria.
Com um total de 209 conselheiros presentes — entre membros vitalícios e eleitos — 130 votos foram contrários à aprovação das contas, enquanto apenas 73 foram favoráveis, além de seis abstenções.
A expressiva diferença escancara a desconfiança de boa parte da cúpula corinthiana em relação à condução administrativa da nova gestão.

Órgãos fiscalizadores endossaram rejeição ao balanço

A decisão do Conselho Deliberativo não ocorreu de forma isolada.
Durante as horas que antecederam a votação, os principais órgãos de fiscalização do clube já haviam se posicionado de forma crítica ao relatório financeiro apresentado pela diretoria.
O Conselho de Orientação (Cori), por exemplo, emitiu parecer recomendando a rejeição do balanço contábil. O motivo principal foi a discrepância entre os números divulgados pelo clube e os identificados pelo Cori.

Segundo o órgão, o passivo total do Corinthians em 2024 teve um aumento de aproximadamente R$ 829 milhões, ultrapassando os R$ 2,5 bilhões em dívidas. Esse número contrasta fortemente com os quase R$ 600 milhões de aumento apresentados inicialmente pela gestão de Augusto Melo.

O Conselho Fiscal, responsável por emitir parecer técnico sobre a contabilidade, também foi categórico ao recomendar a reprovação. De maneira unânime, os membros apontaram falhas e inconsistências na documentação entregue, além de alertarem para a ausência de medidas eficazes para contenção de despesas e reestruturação financeira.

Receita histórica não foi suficiente para equilibrar as contas

Apesar da severidade do endividamento, o Corinthians conseguiu registrar em 2024 o maior faturamento de sua história: R$ 1,1 bilhão.
No entanto, esse marco financeiro histórico não foi suficiente para compensar o tamanho do passivo acumulado, que chegou a R$ 2,568 bilhões, conforme revelado nas demonstrações financeiras entregues no dia 18 de abril.

De acordo com membros da oposição e analistas financeiros ligados ao clube, o elevado faturamento revela um potencial comercial e de arrecadação significativo, porém ofuscado por má gestão, falta de controle orçamentário e dívidas contraídas sem o devido planejamento estratégico.
Entre os compromissos que pesam na balança estão empréstimos bancários, dívidas tributárias, além de acordos mal negociados com fornecedores e parceiros comerciais.

Pedido de adiamento foi negado devido à Lei Geral do Esporte

Em uma tentativa de postergar a deliberação, a diretoria solicitou o adiamento da votação, alegando que precisaria de mais tempo para esclarecer pontos do balanço, no entanto, o pedido foi rejeitado, principalmente por causa das exigências legais impostas pela Lei Geral do Esporte, que estipula o dia 30 de abril como prazo final para aprovação das contas em clubes profissionais. A recusa no adiamento obrigou os conselheiros a votarem com base nos documentos já apresentados, o que contribuiu para a reprovação.

Possibilidade de novo processo de impeachment ronda a diretoria

Com a rejeição das contas, um novo capítulo conturbado pode se iniciar na trajetória de Augusto Melo à frente do Corinthians.
O presidente já havia sido alvo de um processo de impeachment anterior, cuja admissibilidade foi aprovada, mas que acabou não avançando até o fim.
Na época, o mandatário foi acusado de envolvimento em um suposto esquema de intermediação irregular no contrato com a plataforma de apostas VaideBet, que teria utilizado um “laranja” para intermediar o acordo.

Agora, com a reprovação formal das contas, novos questionamentos surgem em relação à governança da atual gestão. Segundo o estatuto do clube, essa reprovação pode servir de base para a instauração de outro processo de impeachment, com chances reais de tramitação, dependendo do posicionamento do Conselho de Ética e da mobilização interna.

Críticas à transparência e governança crescem entre associados

Membros da oposição e sócios-torcedores têm criticado duramente a postura da diretoria em relação à transparência. Nos bastidores, questiona-se a dificuldade de acesso a relatórios detalhados, a demora na divulgação de documentos e a falta de comunicação clara sobre medidas de contenção de gastos. Tais práticas têm contribuído para o clima de instabilidade interna e desgaste da imagem institucional do clube.

Além disso, conselheiros mais antigos têm apontado para a necessidade urgente de reformular o modelo de governança corinthiano, sugerindo a implantação de mecanismos mais rígidos de compliance, auditorias independentes e maior participação dos associados nas decisões estratégicas.

Pressão sobre Augusto Melo tende a crescer nos próximos meses

Diante de um cenário tão delicado, o presidente Augusto Melo terá o desafio de reverter não apenas os números financeiros negativos, mas também de restabelecer a confiança dentro do clube. A pressão de grupos internos, conselheiros e parte da torcida organizada tende a crescer, exigindo mais do que discursos: serão necessárias ações concretas e rápidas.

Entre as possibilidades cogitadas pela base governista está uma reestruturação da equipe financeira e o estabelecimento de uma auditoria externa para revisar os números e propor um plano emergencial. No entanto, tais medidas ainda dependem de aprovação interna e enfrentam resistência de alas mais conservadoras.

Um clube em xeque

A reprovação das contas de 2024 representa mais do que um revés contábil.
Trata-se de um retrato fiel de um clube que vive um momento de introspecção, de rediscussão de seu modelo de gestão e da forma como lida com seus compromissos financeiros.
O Corinthians, gigante do futebol brasileiro, está diante de um dilema: ou encara de frente os problemas que se acumulam ao longo dos anos, ou corre o risco de ver sua grandeza corroída por práticas antiquadas e por uma governança falha.

O destino da presidência de Augusto Melo dependerá da capacidade da diretoria de se reinventar, de ouvir críticas, corrigir rotas e, acima de tudo, prestar contas com transparência e responsabilidade não só a torcida, mas com o conselho deliberativo.

A reprovação das contas de hoje, não há de se falar em vitória da oposição ou derrota da situação, e sim de uma derrota institucional, no qual tem 115 anos de existência e merece dias melhores.

Que Deus, São Jorge nos ajude.