Pedro Silveira deixa diretoria financeira do Corinthians em meio a crise e aumento de dívida bilionária

A diretoria do Sport Club Corinthians Paulista enfrenta mais uma significativa mudança interna em meio a um delicado cenário financeiro. O até então diretor financeiro Pedro Silveira formalizou seu pedido de demissão nesta sexta-feira, em um movimento que ocorre em momento crítico para a gestão de Augusto Melo. A informação foi divulgada inicialmente pela CNN Brasil e confirmada pelo portal Meu Timão, que acompanha de perto os bastidores do clube.
Embora a justificativa oficial para a saída de Silveira aponte para problemas de saúde, sua demissão ocorre no exato momento em que o clube protocolou, junto ao Conselho de Orientação (Cori), o primeiro balanço financeiro da nova administração, revelando um assustador aumento de aproximadamente R$ 600 milhões na dívida do clube. O ex-diretor está atualmente em Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde passa por tratamento médico.
A saída de Silveira, uma das principais peças da atual gestão, aprofunda o ambiente de instabilidade administrativa que se instaurou no clube desde a troca de comando presidencial, em janeiro de 2024. Apesar da justificativa pessoal, o timing e o contexto da saída abrem espaço para questionamentos e inquietações dentro e fora do Parque São Jorge.
Em publicação recente em suas redes sociais, durante visita à Catedral de São Patrício, em Nova Iorque, Silveira escreveu:
“Agradecendo sempre. Agradecendo e rezando pelo nosso bem mais precioso: a saúde. Pela saúde dos nossos familiares e amigos. Pela saúde e bem-estar dos mais de 5.000 colaboradores do grupo Alife Nino e dos mais de 9 milhões de clientes que nos honram com sua visita a cada ano. Agradecendo e rezando também pela paz e prosperidade do nosso Todo Poderoso Timão, por toda a alegria que proporciona e pela influência positiva que exerce sobre mais de 40 milhões de fiéis torcedores.”
O conteúdo da mensagem, embora centrado em gratidão e fé, serviu como indício do afastamento iminente, que agora se confirma. Internamente, o Corinthians ainda não possui um nome definido para ocupar a vacância na diretoria financeira, o que gera preocupações adicionais sobre a continuidade dos projetos em curso e sobre a transparência no enfrentamento da grave situação econômica do clube.
Pedro Silveira: uma passagem marcada por transparência e decisões estratégicas
Pedro Silveira foi anunciado como diretor financeiro do Corinthians em julho de 2024, assumindo o cargo após a saída de Rozallah Santoro. Seu histórico de atuação no mercado financeiro — com passagens destacadas por instituições como o banco XP e o fundo de investimentos BGC Liquidez — atraiu olhares confiantes entre conselheiros e membros da diretoria. A chegada de Silveira foi, inclusive, elogiada pelo próprio antecessor, um sinal da credibilidade técnica que ele carregava.
A gestão financeira de Silveira foi marcada por uma postura de maior transparência e abertura com a torcida, algo que se concretizou com a realização do “Dia da Transparência”, em setembro do ano passado. O evento teve como objetivo apresentar à Fiel Torcida a real situação econômica do clube, evidenciando a magnitude da dívida corinthiana, mas também destacando as primeiras ações da nova gestão para conter os gastos e reorganizar o fluxo de caixa.
Mas Pedro Silveira não atuou apenas nos bastidores burocráticos. Ele também desempenhou papel essencial em negociações estratégicas, como na surpreendente e emblemática contratação do atacante holandês Memphis Depay. Foi Silveira quem liderou as conversas financeiras para viabilizar o acordo e, além disso, manteve relação próxima com o estafe do jogador, sendo considerado o dirigente mais envolvido diretamente com a negociação.
O acerto com Depay foi celebrado como um marco de ambição esportiva e capacidade de articulação do Corinthians no mercado internacional.
Silveira também participou da formulação do balanço de 2024 e da estruturação do orçamento para o exercício de 2025. Em entrevista recente ao site Meu Timão, o dirigente reconheceu os desafios econômicos do clube e afirmou que o Corinthians precisará, inevitavelmente, vender ao menos um jogador titular na próxima janela de transferências, marcada para o meio do ano. Na mesma entrevista, foi enfático ao dizer que o clube não poderia “fazer loucuras” no mercado, sugerindo uma gestão financeira mais prudente e comprometida com a sustentabilidade econômica.
A dívida do Corinthians e os desafios da gestão Augusto Melo
A renúncia de Pedro Silveira escancara uma ferida ainda aberta na estrutura do Corinthians: a escalada da dívida do clube.
De acordo com o balanço financeiro enviado ao Cori, o passivo do Timão cresceu em R$ 600 milhões no primeiro ano da gestão de Augusto Melo. A cifra chama atenção não apenas pela sua magnitude, mas pela rapidez com que se acumulou, trazendo à tona uma série de dúvidas sobre os rumos da administração e sobre a capacidade de cumprimento das promessas eleitorais feitas por Melo e seus aliados.
O cenário atual é o de um clube endividado, com sérias limitações orçamentárias, e com pouca margem de manobra para grandes investimentos. A realidade econômica bate de frente com a exigência esportiva de uma torcida numerosa, apaixonada e carente de títulos nos últimos anos. Em meio a isso, a perda de um diretor financeiro com o perfil técnico e transparente de Pedro Silveira representa não apenas um problema funcional, mas também simbólico: a perda de um dos pilares que buscava devolver ao Corinthians uma imagem de responsabilidade e modernidade na gestão.
Apesar de todos os desafios, Silveira vinha tentando implementar uma política de controle de gastos e reestruturação. As metas incluíam a renegociação de dívidas antigas, o aumento da receita com patrocínios e bilheteria, além da construção de novos projetos para ampliar o faturamento do clube fora das quatro linhas, especialmente através da Arena Corinthians e da marca própria de produtos licenciados.
A saída de Silveira, nesse contexto, é um duro golpe. A indefinição sobre quem assumirá a vaga agrava a sensação de instabilidade e fragilidade institucional.
Fontes ouvidas pela reportagem indicam que alguns nomes estão sendo avaliados nos bastidores, mas a escolha será delicada e deverá considerar o perfil técnico, a confiança política e a capacidade de dialogar com os conselhos internos.
O impacto sobre a torcida e o futuro do clube
O momento é de apreensão para a torcida corinthiana.
Mais do que um episódio isolado, a saída de Pedro Silveira simboliza o momento de crise que se desenha no clube — uma crise que vai além dos gramados e atinge o coração da administração.
A torcida vem acompanhado com atenção cada passo da nova gestão.
A eleição de Augusto Melo foi recebida com esperança de renovação e profissionalismo, mas os primeiros meses têm sido marcados por turbulências, dificuldades financeiras e agora, um desfalque importante na equipe diretiva.
A próxima escolha para ocupar a diretoria financeira será determinante. O Corinthians precisa, mais do que nunca, de gestores com competência técnica, visão estratégica e coragem para enfrentar o passivo bilionário herdado e agravado.