**Corinthians vence Santos e mantém 100% em casa, mas noite é marcada por desconexão nas arquibancadas**
Na noite desta quarta-feira, o Corinthians fez o que dele se esperava: venceu. Com dois gols de Yuri Alberto, o Timão superou o Santos por 2 a 1 na Neo Química Arena, manteve os 100% de aproveitamento como mandante em 2025 e deu mais um passo firme rumo à classificação no Campeonato Paulista.
A vitória, sólida e merecida, reafirma a força de um time que evolui a olhos vistos sob o comando de Ramón Díaz. No entanto, nem tudo foi motivo de orgulho. Nas arquibancadas, algo destoou – e não foi pouco.
A presença de Neymar, do lado santista, atraiu flashes, celulares erguidos e olhares mais interessados em registrar o instante do que em viver o jogo.
Em plena casa corinthiana, viu-se uma cena que incomodou: tietagem ao ídolo alheio e uma energia que, por momentos, parecia mais voltada ao espetáculo individual do que à paixão coletiva por um clube centenário. E isso, por mais que se tente relativizar, não pode passar batido.
O JOGO: DIFICULDADES INICIAIS, MAS EFICIÊNCIA LETAL
Dentro de campo, o Corinthians teve dificuldades nos minutos iniciais. O Santos, bem postado, marcou forte a saída de bola corinthiana e encontrou espaços para ameaçar. Pituca, aos 11 minutos, obrigou o goleiro Hugo Souza a fazer grande defesa. O Corinthians respondeu aos poucos, ajustando a movimentação no meio-campo e buscando profundidade com Garro e Carrillo.
Aos 22 minutos, veio a abertura do placar. Após boa jogada de Martínez pela direita, Yuri Alberto se antecipou a João Basso e, com o bico do pé esquerdo, tocou na trave antes de ver a bola morrer no fundo do gol. A explosão da Fiel foi imediata. Gritos de alívio, alegria e identidade tomaram a Arena. Para os que estavam ali por Neymar, era um momento de silêncio. Para os corinthianos, de afirmação.
O segundo gol saiu aos 43 da primeira etapa e foi uma aula de inteligência e movimentação. Garro, com um passe magistral por cima da defesa, encontrou Memphis Depay livre. O holandês dominou e tocou de primeira para Yuri Alberto completar com o gol escancarado: 2 a 0. Foi uma jogada digna de manual, com técnica, visão e frieza.
Na volta do intervalo, o Corinthians perdeu ímpeto ofensivo, mas manteve o controle da partida por boa parte do tempo. O Santos mexeu no time e buscou alternativas, mas teve dificuldades para furar o sistema defensivo alvinegro. Neymar, apesar da expectativa, pouco produziu. Recebeu marcação firme e sem espaços, errando passes, arriscando pouco e sendo substituído aos 20 do segundo tempo sob vaias dos torcedores corinthianos — e aplausos isolados de parte dos presentes.
O SUSTO FINAL E A CONSOLIDAÇÃO DA VITÓRIA
Aos 33 minutos do segundo tempo, o Santos voltou ao jogo. Em cruzamento pela esquerda, Guilherme subiu mais alto que André Ramalho e marcou de cabeça. O gol acendeu o alerta no Corinthians, que passou a se defender com mais gente e menos ousadia. As substituições de Ramón Díaz visavam conter o ímpeto santista e garantir a vantagem até o apito final.
A pressão final do Santos incluiu escanteios, bolas alçadas e até um lance reclamado como pênalti nos acréscimos. Mas a defesa corinthiana resistiu, com destaque para Hugo Souza e a entrada segura de Léo Mana, que afastou bola perigosa na pequena área.
Quando o árbitro encerrou o jogo, o alívio deu lugar à celebração. O Corinthians venceu, convenceu e reafirmou sua força em casa. Mas mais do que isso, reafirmou sua essência. Em campo, um time competitivo e vibrante. Nas arquibancadas, uma torcida que resiste mesmo diante das novas dinâmicas do espetáculo esportivo.
O SIGNIFICADO DA VITÓRIA
Este não foi apenas mais um triunfo no Paulistão. Foi uma vitória simbólica. Enfrentar Neymar, um dos maiores nomes da história recente do futebol brasileiro, é sempre um desafio — e superá-lo, mais uma vez, tem peso. Com o resultado, o retrospecto entre Corinthians e Neymar em confrontos diretos chegou a 9 vitórias corinthianas em 20 jogos, número expressivo diante do talento do adversário.
A atuação de Yuri Alberto, autor de dois gols, merece destaque. O atacante tem sido criticado em algumas partidas, mas mostrou presença de área, movimentação e frieza para definir. Garro, titular pela primeira vez, também foi peça fundamental, assim como Memphis Depay, que parece cada vez mais adaptado à dinâmica sul-americana.
Mas, talvez, o grande símbolo da noite tenha sido a resistência cultural. A Fiel fez sua parte. Cantou, vibrou, empurrou. Resistiu à invasão do entretenimento pasteurizado. Mostrou que o futebol ainda é, acima de tudo, pertencimento, emoção e história.
O que se viu fora das quatro linhas
Mas é impossível falar dessa noite sem apontar o incômodo nas arquibancadas. Parte do público presente não estava ali pelo Corinthians. Estava por Neymar. Não pela camisa que representa uma nação, mas pela figura de marketing, pelo artista global, pelo nome mais seguido nas redes sociais.
A essência de ser Corinthians
Ser Corinthians é outra coisa. É muito mais do que ir ao estádio para ver quem está do outro lado. Ser Corinthians é torcer contra tudo e todos, é empurrar o time mesmo nos piores momentos, é vibrar com o desarme de um volante como se fosse um gol. É carregar no peito a história de um clube fundado por operários, erguido à base de suor, resistência e amor.
Quem veste preto e branco por conveniência ou por ocasião não compreende isso. Quem vai ao estádio para filmar Neymar e esquece de aplaudir Yuri Alberto, Memphis Depay, Garro, Raniele, Hugo Souza e tantos outros que honram a camisa, também não compreendeu.
O futebol mudou, sim. Tornou-se global, espetacularizado, instagramável. Mas o que faz do Corinthians um gigante não são os nomes midiáticos que passam. É a alma que fica. É o povo que nunca abandona. É o torcedor que canta aos 46 do segundo tempo mesmo quando o time está perdendo. É aquele que aplaude uma dividida, que se emociona com um escanteio bem cobrado, que perde a voz para empurrar o time. Isso, sim, é Fiel Torcida.
PRÓXIMOS PASSOS
O Corinthians volta a campo no próximo sábado, dia 15, às 18h30, contra a Portuguesa, no Pacaembu. Será o reencontro do clube com um estádio histórico, que guarda memórias afetivas e títulos importantes.
A classificação já está praticamente assegurada, mas o desafio de manter a regularidade e aprimorar o desempenho coletivo segue. O elenco de Ramón Díaz, que vem encontrando equilíbrio entre juventude e experiência, terá mais uma oportunidade de amadurecer.
Que o retorno ao Pacaembu sirva, também, como lembrança de que o futebol vive de raízes.
Ficha técnica
Competição: Campeonato Paulista
Local: Neo Química Arena, São Paulo, SP
Data: 12 de fevereiro de 2025 (quarta-feira)
Horário: 21h35 (de Brasília)
Árbitro: Edina Alves Batista
Assistentes: Danilo Ricardo Simon Manis e Alex Ang Ribeiro
Árbitro de vídeo: Adriano de Assis Miranda
Gols: Yuri Alberto (duas vezes) (Corinthians); Guilherme (Santos)
Cartões amarelos: Matheuzinho, André Ramalho, João Pedro Tchoca, Raniele e Ryan (Corinthians); Zé Ivaldo, Luan Peres e Tiquinho Soares (Santos)
Público: 47.695 pagantes (público total: 48.169)
Renda: R$ 2.952.483,00
CORINTHIANS: Hugo Souza; Matheuzinho (Léo Mana), André Ramalho, João Pedro Tchoca e Hugo Farias; Raniele (Alex Santana), José Martínez (Ryan), André Carrillo e Rodrigo Garro (Talles Magno); Memphis Depay (Romero) e Yuri Alberto.
Técnico: Ramón Díaz
SANTOS: Gabriel Brazão; Leo Godoy (Escobar), João Basso (Chermont) e Zé Ivaldo; Luan Peres, T. Tincón (João Schmidt), Diego Pituca (Gabriel Bontempo), Neymar (Soteldo) e Guilherme; Tiquinho Soares e Thaciano.
Técnico: Pedro Caixinha